O sino soava
O tempo quente pesava no ar
Densa atmosfera se espalhava
Tornando tudo inquieto
O vento que não soprava
O calor que sufocava
O tempo que se arrastava
A terra que ardia
O sol que maltratava
A primavera que fugia...
Uns cantavam para esquecer
Outros cantavam para sobreviver
Naqueles dias febris o transe era total
Noites sombrias empestavam o ar
E o vento que não soprava
O calor que sufocava
A lua que sangrarava
O tempo traia
Nada se mexia
Noites vazias
Um trago de aguardente para esquecer
O último cigarro para não enlouquecer
Os abutres negros no ar chamando a morte
A morte impiedosa tudo levava
E o cheiro podre no ar
E tudo querendo acabar
Tudo tão nefasto
Tudo tão irritante
Tudo tão lúgubre
E eu não me afasto
Paro a todo instante
Espanto o abutre que se aproxima
Que para perto de mim vem agourar
Grito para a sorte
Quero afastar a morte
Quero rir para não chorar
Curar a ferida
Prolongar a partida
Abraçar a vida
Mesmo sem forças desejo ficar
Sentar na janela
Virar a maldita sentinela
Vencer a tentação
Guardar a oração
Para lutar contra o dragão
A fera está solta no pasto
Seguindo nosso pesado passo
Oh tempo ingrato
Por que tanto mau trato?
O seco tempo que pesava no ar
O vento moroso que não soprava
O sol tudo queimando sem compaixão
O calor sendo a única e cruel estação
Uns dançavam para esquecer
Outros dançavam para sobreviver
O sino que soava
Era a morte que ele anunciava