O sino soava

O tempo quente pesava no ar

Densa atmosfera se espalhava

Tornando tudo inquieto

O vento que não soprava

O calor que sufocava

O tempo que se arrastava

A terra que ardia

O sol que maltratava

A primavera que fugia...

Uns cantavam para esquecer

Outros cantavam para sobreviver

Naqueles dias febris o transe era total

Noites sombrias empestavam o ar

E o vento que não soprava

O calor que sufocava

A lua que sangrarava

O tempo traia

Nada se mexia

Noites vazias

Um trago de aguardente para esquecer

O último cigarro para não enlouquecer

Os abutres negros no ar chamando a morte

A morte impiedosa tudo levava

E o cheiro podre no ar

E tudo querendo acabar

Tudo tão nefasto

Tudo tão irritante

Tudo tão lúgubre

E eu não me afasto

Paro a todo instante

Espanto o abutre que se aproxima

Que para perto de mim vem agourar

Grito para a sorte

Quero afastar a morte

Quero rir para não chorar

Curar a ferida

Prolongar a partida

Abraçar a vida

Mesmo sem forças desejo ficar

Sentar na janela

Virar a maldita sentinela

Vencer a tentação

Guardar a oração

Para lutar contra o dragão

A fera está solta no pasto

Seguindo nosso pesado passo

Oh tempo ingrato

Por que tanto mau trato?

O seco tempo que pesava no ar

O vento moroso que não soprava

O sol tudo queimando sem compaixão

O calor sendo a única e cruel estação

Uns dançavam para esquecer

Outros dançavam para sobreviver

O sino que soava

Era a morte que ele anunciava

Carla Neumann
Enviado por Carla Neumann em 08/01/2016
Reeditado em 08/01/2016
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