LE PLAT DU JOUR
tamanha ousadia
desdenhar o arroz e feijão da vida
quando se tem na boca
apenas um dente e a gengiva ferida
incapaz de triturar um grão
quem dirá os ossos da res abatida
mas é assim que agradecemos o almoço
com o peito cheio de orações fingidas
quando se quer mesmo
é se deleitar no mel de uma mulher da vida
abanando o rabo feito um cão
se vangloriando da boca lambida
tamanha ousadia
querer do mundo apenas o licor
quando tudo o que se provou
foi o mosto de óleo de motor
recuperando-se do amor no chão
idolatrando o suor e a dor
mas é assim que recebemos a ceia
de olho no pão mas com a carne na alma
quando o molho que tudo besunta
turva a água que tudo lava e então se acalma
encarceirado num miolo de pão
esperando um cínico bate-palmas