CORTINA DE FOGO
 
 
Verás teu futuro
flutuar sobre a parede
de um muro limoado
escondido
tropeça sempre na rua
parece que nunca viu

descobre uma mentira
sóbria deitada
em cima do futuro
que presente pede
que suba
não há escadas
degraus de montanhas
escondem teias de aranha
das sobras que foi
você um dia
há um livro num buraco
escuro
há um sino tocando
mudo
o que não ouve
são lembranças vivas
no mundo
quem faz acordar
vive no mesmo lugar
vagando surdo
os pés estão longe agora
o alto desponta uma ave negra
mirando tua subida
ela tem vidas esperando
comida
tua carne suada está fria
tua parada sobe aroma
de medo lá em cima
clima inverso
no reverso que fica preso
na descida
não há nenhuma corda
não há manobras
há um poço de águas calmas
esperando desistir de tudo
nadar de volta
flutuando passivo
encontrar outra rota
que não aponta
o lado escuro da verdade
maldita
que vem caindo
todos os dias lá de cima
febre consome forças altivas
tua nobreza
pede que vá subindo
a escravidão é um sábio
possuído de agonias
entre ovelhas ditando regras
entre ninfas
comprando vidas
será uma ilusão 
as negras penas abertas
serão nuvens desertas
de chuva
cobrindo meu medo
do antigo permanente?