Falando com as paredes
Fala-se com as paredes na ausência
Da alma da voz ou do tato
No sentir dos gestos e dores
O sigilo poupa o desencanto
E a tristeza ecoa entre as paredes
Paredes frias que não respondem
É ouvinte passiva da dor alheia
Que pulsa nos olhos armados
De uma angústia pálida
Que canta um refrão desafinado
É um monólogo feito na teia
Que cai no seio íntimo da noite
E desperta na fragrância matinal
Dentro do orvalho da água lisa
E vasa no resto da prece que pulsa
A lua passa e brilha sobre o mar
Mostra-se solene íntima e confusa
É a parede da alma que responde
Ao canto desfigurado dos olhos suados
Na condição passiva dos atos
O óbvio traça a resposta e guarda
Segredos calados íntimos e sofridos
É o alicerce traçado no sigilo da alma
Nas mãos de uma parede fictícia
O mundo parece arqueado
Num horizonte manchado de luz
E propaga o arquivo de tantas ilusões
Que sustenta alimenta e dá vida ao poeta
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