O dia em que o caçador virou caça.
O DIA EM QUE O CAÇADOR VIROU CAÇA
Dias dez e onze de 8 de 2oo1
É mais uma data marcada
Quatro amigos se juntaram
Pra fazer uma caçada
Com farolete e bateria
Cartucho a reveria
E também duas espingardas.
Saímos ao escurecer
Alguns até sem avisar
Pois estavam todos ansiosos
Não podiam esperar
Cutucando o companheiro
Pra ele andar ligeiro
Para não se atrasar.
Ao chegar nas Barrocadas
Começou os preparativos
Bota chinelo de dedo
Tinha até curativo
Lingüiça e pão pra sestear
Pepsi cola pra tomar
E canha pro aperitivo
Com cinturão na cintura
Espingarda carregada
Farolete e bateria
Com a pinga pendurada
Saímos de campo adentro
Todos nos muito atento
Para não escapar nada.
Olha lá: é uma lebre
Um dizia cauteloso
O outro apontava o dedo
Também com olhar curioso
Já se ouvia i estampido
O bicho saia batido
Mas depois virava o toso.
A Sena repetitiva
Parecia até replei
De onde vinha tanto bicho
Confesso que também não sei
Mas com os cartuchos trancando
As lebres foram passando
E nenhuma delas matei.
Não posso dizer o mesmo
De quem vinha a meu lado
Com uma rossi de dois canos
E o dedo aprumado
Dois tiros num estampido
E o bicho atrevido
Já ficava estiraçado.
Com seis lebres abatidas
Em pouco tempo de caçada
Andamos até o carro
Para dar uma cestiada
Pensando que éramos vivos
Tomamos aperitivo
Sem desconfiar de nada.
Deixamos aquelas lebres
Dentro de um saco escondido
Voltar a caçar de novo
É que ficou decidido
Pôr achar cedo pra ir embora
E achar que naquela hora
Podíamos ser seguidos.
Então voltamos a caçar
Pelo caminho anterior
Mais cinco lebre num saco
Arrancando o nosso suor
O que era bastante
Ali naquele instante
Transformo-se em horror.
Considerem-se presos
Ainda soa em meus ouvidos
O grito de um homem da lei
Corajoso e destemido
Que saiu de traz dos arbustos
Pregando-nos um grande susto
Mas sendo obedecido.
O que fazem pôr aqui
Perguntou o militar
Antes que a gente respondesse
Ele voltava a falar
Será que nem um de vocês
Esta pôr dentro das leis
E que proibido caçar.
Então voltou nossa voz
E conseguimos sussurar
Dissemos que não saibamos
Ser proibido caçar
Que cassamos pra comer
Só não deu pra convencer
Os brigadianos a nos soltar
Vá com calma meu amigo
Pra que nem um braço quebre
Reclamando das algemas
O João que estava com febre
E mesmo tomando chá quente
Não aguentou e foi com a gente
Nesta caçada de lebre
O Leandro de tão nervoso
Brilhando o suor na testa
Perguntava pro Ronaldo
O que será que nos resta
Dei uma grande mancada
Pôr Ter vindo na caçada
E não ficado na festa.
O Ronaldo pouco falante
Mostrava-se abalado
Mas dizia pro Leandro
Não ficar preocupado
Pois era coisa da vida
E que devia Ter saída
Pra não ficar trancafiado.
Eu que era o mais falante
Não cansava de explicar
Falava de inocência
Pedia pra nos soltar
E se eles não tinham dó
Porque lá no chilindró
Eu não queria ficar.
O caminho pra delegacia
Foi cercado de expectativa
Dizendo verso e cantando
Musica do Rui Biriva
Na hora de ver as caça
Tiveram que achar graça
De uma que estava viva.
Quem é que mata esse bicho
Um dizia assustado
Ao ver que a lebre pulava
Com alguns ossos quebrados
Pegue um pau ou um facão
E mate o bicho fujam
Que é pra mostra pro delegado.
A gente que é ligeira
Sai correndo nessa hora
Eu o João algemados
Atrás do bicho rua a fora
Demos num cabo de aço
E foi ai que um braço
Quase arranquemos fora.
O Ronaldo muito chateado
No meio da animalada
Matando lebre a paulada
Tendo uma arma de bronze
Mas não deu mole pra bichinha
Fazendo uma ladainha
Quem mata dez mata onze.
Então passamos pra dentro
Cumprindo ordem de prisão
Respondendo umas perguntas
Feitas pelo escrivão
Falaram-nos dos problemas
Mas tiraram as algemas
E fiquemos esfregando as mãos.
O plantonista da noite
Mais conhecido pôr tira
Ligou para o delegado
E depois se referira
Pra ele vir bem armado
E tomando muito cuidado
Que os cabra era bom de mira.
Pra gente o que dizia
Deixava-nos preocupados
Dizendo que dependia
De quem fosse o delegado
Mantivemos a esperança
De ser crime de fiança
E não ficar em jaulado.
O Ronaldo estava os dedos
O João girava a aliança
O Leandro ruía as unhas
E Eu já meio ruim da pança
Quando chegou o delegado
Arruma grana e advogado
Que o crime é de fiança.
Foi aquela apreensão
Batendo no celular
Quatro horas da manhã
Sem numero pra ligar
Confesso que tive pena
Mas acordemos o Luís e a Lena
Pra eles nos ajudar.
A Lena nos atendeu
E depois passou pro Luís
As quatro e pouca da manhã
Assim não da pra ser feliz
“Arruma grana e advogado
Pra levar pro delegado
Soltar aqueles infeliz”.
A correria foi grande
Para encontrar o douto
A Marissél foi chamada
E logo se prontificou
Acordar mais umas pessoas
Que atenderam numa boa
E logo o localizou.
O doutor Antônio Selistre
Que passou a noite acordado
Mas respondeu que iria
La falar com o delegado
Dizer da nossa inocência
Pedir que tenha paciência
E de tudo pôr encerrado.
Foram três horas de espera
Até fazer a papelada
Vinte paginas completa
Mais de cinqüenta assinada
Finalmente a liberação
Um alivio no coração
E a saída em disparada.
Ao ir da delegacia
Até o carro estacionado
Muitos que estavam passando
Paravam admirados
Mostrando algum pavor
No dia em que o caçador
Acabou sendo cassado.
Lembro que a chegada em casa
Foi com muita emoção
Receberam-nos com carinho
Mas com ar de gozação
E mesmo tentando esconde
A gente podia ver
O aperto no coração.