A suicida
Toda vida resumida, desejo... Procura...
Esquiva Maria!
A ladeira a me embalar até ela...
As ondas do mar...
Os ventos a trazer-me, teu perfume...
Nos unia a abelha...
Voando lembrando-me teu mel...
Teu tão doce amor
Mas a teimosa desventura hoje me furta a paz
Maria, Maria!
E o corpo que clamava por'outro...
Agora se despede do morno verão...
E a monotonia me alcança...
Sertões...
Distante Maria!
A ânsia d'vêr-te...
Amar-te...
Presenteia- me toda cruel realidade...
Turbulentas águas e vaidades do mar...
Afogando nossas almas...
Separando nossas vidas...
ah! Maria...
Melindroso eu seguia por detrás da vaporosa...
A desprender-se sobre as siamesas almas separadas
Nascidas sob os reluzentes d'ouros...
Sol d'meu consolo...
Meu precioso tesouro...
Mimosa Maria!
Quantas vezes quis gritar...
Correr...
Romper o horizonte dispendioso da inconsequência...
Viver flores...
Amores...
Enfim...
Como a alva neblina...
Quisera eu feito vapor...
Te roubar ocultamente,
As lágrimas d'sua mente...
Seus dóridos assombros...
E tal sofrer ao acaso do espaço desleixar ...
Entregar-te nuvens santificadas d'paz...
A qual sua presença me encheria...
Ah, Maria!
Tal diluente ingrata vida amargurada!
Chagas do vil sofrer...
Fria ceifa do prazer...
Úmidas mãos, mórbidos olhos!
Semblante d'quimera!
Leva-me tua imagem, lírica Maria!
Agora cruelmente enternecida...
Com a crua visão d'uma suicida...
Oprimida...
Rodeada de amargura...
E o ventoso sopro d'morte, arrepia-me os pelos...
Tremem- me os ossos...
Surpreende-me a fronte, já em pálido semblante...
Até seu último suspiro!
E a tua carne se-é rasgada...
E a restante púrpura se definha no sangue...
Esmaltados brancos dentes, enfarinhados em pó...
E o corpo!!!
Interno trono dos cruéis senhores...
Na múdes d'sua boca breve...
Dilacerada em pesares...
E o branco radiante d'teus ossos...
Que saúda toda realeza de irritados...
Vulcões fumegantes!
Adeus, agora pupila do romper mortal...
Sobrevoando, atirou-se ao abismo...
Onde do fundo jamais alcançarias o paraíso...
Terrível é o cantarolar da vastidão as trevas...
O medo...
A falta de desejo d'viver alvíssima, como a ensolarada manhã desanuviada...
Onde a lacrimosa nuvem, não tinge o anil d'cinza...
Onde o mísero pó funéreo, não nos atinge
Maldita punição que t'leva d'mim...
E a alma pela terrível terra dos confins...
Enterraste hoje crente, estrelada arrojada sepultura...
Ira dos pródigos ventos...
Camorra, venerados sepulcros...
Onde repousam vísceras, religião, erros...
Fibras, flores, sábios peregrinos...
Cinzas, amores, olhos...
E o infinito cambaleando pelo fogo ardente.