O NOVO ANO
O que muda é um número, um número que transforma um milhar.
A novidade é uma atenção a mais ao datar o cheque.
Ás vezes, o dígito avança, mas a mente escolhe o passado ao presente.
Sem artifícios, troca-se um único algarismo, os fogos explodem.
Os homens festejam e Iemanjá ganha as flores murchas do calor.
Mas o que muda?
O calendário muda para uma versão inédita,
a agenda que ganhei no natal tem cheiro de nova.
As datas nos e-mails, nos contratos e nos processos revigoram a burocracia humana.
De resto, não muda nem a estação, continuo a transpirar num verão implacável.
O ano é novo, a vida segue igual,
com menos futuro para a esperança, porque o tempo se extingue no enxágue das horas.
O que muda então?
Muda você, que misteriosamente me comove mais aos olhos.
Mudo eu, que envelheço sem querer,
sempre resistindo ressentido, inutilmente, aos ciclos da natureza.
Muda o mundo, que me engole,
que me rumina entediado, como quem bebe uma taça de vinho barato.
Um canibal sem fome que, mesmo assim, me devora.
O que muda é um número, um número que transforma um milhar.
A novidade é uma atenção a mais ao datar o cheque.
Ás vezes, o dígito avança, mas a mente escolhe o passado ao presente.
Sem artifícios, troca-se um único algarismo, os fogos explodem.
Os homens festejam e Iemanjá ganha as flores murchas do calor.
Mas o que muda?
O calendário muda para uma versão inédita,
a agenda que ganhei no natal tem cheiro de nova.
As datas nos e-mails, nos contratos e nos processos revigoram a burocracia humana.
De resto, não muda nem a estação, continuo a transpirar num verão implacável.
O ano é novo, a vida segue igual,
com menos futuro para a esperança, porque o tempo se extingue no enxágue das horas.
O que muda então?
Muda você, que misteriosamente me comove mais aos olhos.
Mudo eu, que envelheço sem querer,
sempre resistindo ressentido, inutilmente, aos ciclos da natureza.
Muda o mundo, que me engole,
que me rumina entediado, como quem bebe uma taça de vinho barato.
Um canibal sem fome que, mesmo assim, me devora.