DA JANELA DO TRENÓ

Bem aqui sob o céu do meu verso

Acionei minhas renas para sobrevoar

O mistério para além do anverso

Que a bem poucos caberia enxergar.

Qual tecido exposto em biópsia arredia...

A cada poesia eu pude congelar!

Eu corei todas as cenas à revelia

Cada célula de rima ali...a brotar.

Cá de cima, assim, percorri a bela vista

Que de todas era a vista mais bela!

Da cidade em meio aos tons de cinzas

Do concreto que fere a mais linda tela.

Passeei pelo imenso céu do firmamento

De estrelas desenhadas ao imenso luar...

Eu livrei todo o céu dos escuros tormentos

No obscuro eu pus suas luzes a piscar.

Adentrei as janelas algo entreabertas

Na poesia sofrida de antigas construções

Enxerguei ao tudo ao espiar suas frestas

As células quiescentes das ocultas emoções.

Já na praia eu sobrevoei o horizonte

Cá de cima, então eu o pude filmar

Mar adentro já vinha um barco velejante

A nos trazer a beleza da profundeza do mar!

Então olhei logo ali, bem abaixo

Aonde todos se negavam a ver...

Na calçada havia um menino assustado

Esforçava-se para a infância reviver.

Pela noite que no tempo corria

Já na aura dum presente Natal

Pude ver a Aretuza em doce magia

Passear na mitologia ancestral!

Esbanjava a sua sensualidade

Esquecida qual o habitat da floresta

Não sabia que toda a felicidade...

É a natureza-mulher!- inteira em festa.

Num afresco ao hall do sofrimento

Vi uma árvore que em forma de cruz

No presépio das cenas de tantos tormentos

Embalaria o Menino-Jesus!

E tais versos não seriam a debalde!

Dessa vida que só nos corre alheia,

Logo mais cessaria toda a maldade

A dar vida à poesia só benfazeja.

Avistei um lago esquecido no tempo

Libertar a rima toda encarcerada

Da infância que ida ao léu do vento

Retornava em suave e bela balada.

No som do poeta enxerguei o humano

Pela gaita mágica que na noite soou...

Em timbre que qual um doce soprano

No meio do dia o sol embalou.

No líquen de cores maravilhosas

Na pele da mata toda escarificada

Eu vi das telas a mais gloriosa:

Vermelho cor sangue da vida enxertada...

Eu vi a torre mais alta do mundo!

Se erguer dum gótico em oração

Pelo tudo que de tão absurdo

Cá na Terra nos é muita indignação.

E no dia chegado do grande Advento

Lua cheia brihante se perdia no céu...

Escorria pelas nuvens o evento

Qual uno solstício em forma de véu.

Eu vi tudo do alto das breves nuvens

Inclusive uma orquídea ali a brotar

Num jardim que num tom de pink ilude

A saudade oculta em aquarela a corar...

De textura tão fina, de pele delicada

De perfume a então a todos exalar

A poesia tão doce e sofisticada

Que a todo o mundo soube enfeitiçar.

Despertei tarde além da madrugada

Desvesti a quimera toda em soneto...

Quando olhei lá fora já era nova alvorada

Nova rima a ecoar aqui no meu peito.

Adentrei a floresta, tenra, encantada

Dentre o mato da serra mais alta e então

Avistei margaridas agigantadas!

De ilusão a brotar em tão duro chão.

Aprendi que nas janelas das gentes...

O profundo jamais se pode sentar

Mas se os versos lhes acionarem as lentes

Os seus olhos no todo poderão mergulhar.

Quando o tempo me soou na calçada

Que a vida nunca nos passa em vão...

Enxerguei outra era... a duma nova jornada

Que anunciava-se em mais um Reveillon!

Feliz 2016 a todos!