Fala-me

Fala-me

Fala-me da tua dor.

Quanta vez se calou?

Deixou de sorrir, para dar lugar a uma ou outra lágrima?

Fala-me de tudo.

Do devaneio da loucura, da insanidade plena, do desatino.

Do cão que ladrava junto ao portão.

Da solidão estendida no sofá da sala.

Na mala desfeita.

Fala-me dos amigos perdidos pelo caminho.

Dos dias de chuva sobre a vidraça da alma.

Fala-me da tua dor.

Dos sonhos de outrora, hoje apenas lembranças.

Da tua dança, dos dias de criança.

Da esperança, da luz tênue de um amor esquecido.

Eu solidão.

Fala-me da tua alegria.

Da noite fria, do chá quente ao pé do fogão a lenha.

Do lampião solitário no umbral da porta.

Da cama fria, do passeio pelo quintal.

Das frutas maduras caídas ao chão.

Das manhãs cinzentas.

Fala-me dos dias idos, dos esquecidos.

Eu solidão.

Fala-me do pranto.

Do acalanto.

Das mãos entrelaçadas, dos olhares entrelaçados.

Dos dias errantes, dos amantes.

Da relva macia sobre a colina.

Do afago do vento.

Fala-me do esquecimento.

Do choro da viola nas mãos do cantador.

Fala-me amor.

Eu solidão!

Amantino Silva 01/12/2015