<01>O amor que não amo.

O amor que não amo.

Não me importa a agonia no mergulho ao fogo

que arde em vivas chamas,

nem de expor-me à faca que retalha a alma

e dilacera;

mesmo que haja o sofrimento

e a dor como martírio,

quero beber e embriagar-me desse sentimento.

Quero adentrar o lago fundo

de águas inquietas, turvas e salobras

à insegurança e ao temor

que habita em cada sinuosa curva,

eu quero a chuva

que fraqueja ou cai em incessantes torrentes,

as tempestades, as pedras

e os desertos em areias quentes.

Quero às paixões ferir-me até que o imo sangre,

depois tragar do vinho e do vinagre acre

até que o peito estanque;

quero sofrer à insônia infinitos tons de medo;

eu quero o mel que azeda

e se transforma em ressentimentos;

quero morrer sem a consciência

desse engano ledo;

eu só não quero voar nas asas lassas

de um amor placebo..