Do Flamingo
Nesse seco Natal, a chuva é o presente
pra diluir a cal dessa secura tamanha;
desse pó em vendaval que (o olhar) arranha;
num secar desigual que desiguala a gente.
Do olhar ressecado (se essa chuva banha)
se forma um banhado de lágrima fluente;
fluir de rio chorado que chora a enchente
do viver lacrimado que, no seco, é manha.
Nesse choro com data, o que nasce molhada
é a dor que se mata ao primeiro respingo;
pois se sente ingrata por secar um flamingo...
por viver de me matar em tão seca matada;
então se deixa molhar, numa morte aguada,
num chover, num chorar que faz, da sexta, domingo.
25-12-2015