Natal no sertão
No sertão
há pinheiro não.
No sertão,
a árvore é o ipê
a luz vem d'ocê
e a manjedoura
sem ouro
é um manto de pétalas amarelas.
A guirlanda da porta
é raiz de árvore morta
retorcida como a vida,
renascida.
No sertão
não tem noz,
senão nós,
e o sino da meia noite
bate dentro da gente,
que sente...
Que vinho é quem vem
Que doce é quem toca
Que o milagre é uma evidência
e o nascimento,
um invento...
uma prosa...
um verso...
um gesto...
um canto,
neste canto de mundo
que é o sertão.
No natal do sertão,
ausência é presença
saudade é urgência
e emoção não é aflição.
Tudo reverbera...
vera...verbena...verbetes...
e uma infinidade
de verdades
em todas as ignorãnças.
No sertão,
natal é abrigo de tardes
de vento que abraça
de cheiro que enlaça
e olhos emprestados
ao reconhecimento.
No sertão,
o natal pede pra ser dividido
porque a alegria excede
e rasga o rosto
ensolarado do sertão.
No sertão,
o natal quebra a casca
e rompe a película do silêncio
para dizer no claro enigma
da noite porvir:
Feliz natal!