Interstício do fim
Não consigo entender/
Como eu e você/
Ainda nos permitimos/
Ficar em casa aos domingos/
Em nome da família/
Em nome do bom descanso/
Quando deveríamos todos estar às ruas/
Unindo as nossas indignações/
Nossas dores, nossas lágrimas, nosso cansaço e nossas mãos/
Em torno de um brado responsável/
Uníssonoro/
Em torno de um protesto sério/
A perturbar essa omissão/
Esse estado de conforto dos eleitos/
As correntes da burocracia, que alijam a ordem/
Que pagam por nossa ignorância/
Que Maculam a alma das pessoas/
Que deram sangue ou a vida/
Na ilusão de que a Democracia seria para todos/
E, sobretudo, contra homens inescrupulosos/
Que ousam roubar a capacidade de sonhar/
Ou de culto a esperança/
Num amanhã melhor aos nossos filhos/
Se tudo o que digo/
Não faz sentido/
É porque já fomos vencidos/
E se temos outra escolha/
Pra permanecer nesse silencio/
Frente a tanta desigualdade/
A essa impotência de justiça/
A esse medo/
É melhor então/
Esperar pra morrer/
Porque nos nossos dias/
Já não se tem o que fazer/
É só olhar ao redor/
Crianças assaltando/
Governantes roubando/
Miséria, fome aumentando/
Corrupção, desigualdade e discriminação racial/
Dentre tantas calamidades/
O que se vê numa guerra/
A nossa realidade/
É a pura maldade/
Ninguém prega mais o amor/
Sendo assim,
Por não acreditar mais em mim/
Pode-se dizer que já estamos no fim/