TENSÃO DAS ÁGUAS

Curei minhas feridas

Ao deslizar como pedra impulsionada

E vencer a tensão das águas espelhadas.

Tive meu luto

Fui ao fundo do destino negro.

Tornei-me pedra afogada em anseios

Pedra-âncora indo, indo e indo

Para as profundezas

Amparada em correntes

Perdendo a parca consciência

Envolta em bolhas de uma falha respiração

Vendo a luz turva se apagar ao meu redor.

Morri naquele instante de suspensão líquida

Disforme e incaracterizável

Antes de chegar à cama-lama daquelas águas.

Ao de fato estar no fundo de mim

Retomei minha propulsão

De pedra atirada por hábeis mãos

Feito asteroide ressurgi

Rompendo inversamente o caminho que fiz

Colhendo o aprendizado afogado

Deixado como rastro

E ascendi ao céu pedra iluminada

Livre de qualquer dor, pois esta se afogou.