FALENCIA
Este mundo não existe.
Chamam de cidade onde vivem os rebanhos.
Inventam luzes para acabar com a escuridão,
Ruas, para que se percam,
Esquinas, que se virem!
Vestem gravatas, esses loucos,
Sorvem líquidos engarrafados,
Soltam fumaça pelo nariz.
Escolhem morar sobre tijolos,
Não gostam dos ventos,
Colocam janelas,
E portas,
Tantas porcarias de portas!
E depois se sentam sobre animais mortos
E pensam ter controle sobre as imagens
Que correm num tubo de vidro.
Eles se alimentam quantas vezes tiverem fome
E vomitam nos próprios pés.
Dizem que estão em um país livre
E usam armas,
Para que?
Seus olhos elásticos
Não se fecham,
Nem para dormir.
Têm medo dos próprios filhos.
Desdenham quaisquer oceanos
E duvidam da multiplicação,
Ação remota,
Morta dentro de uma rede.
Sentem sede de sangue,
Exangues,
Sucumbem aos anos.
Eles pensam que sim,
Mas este mundo não existe.
É o contorno caricato
De um triste destino,
O mundo que eles pensam
Morreu quando ainda era um menino.