Estrelas de tule e organdi

aqui,

onde repousa a impermanência

nada é minimamente cognoscível

rugem vultos pressagos

uma alucinação inteligível

para se orientar

enquanto a dor semeia o tempo

dos rumores nas águas convulsas dos destinos

palavras ditas ou ouvidas ao acaso

acostando-se ao poema

para se recitar quando se estiver tomado

de metafóricas fantasias

incendiando o vento no ocaso de algum dia

e o mundo a tremer ao ser inquirido

a mente mentindo

tornando o mundo fuga e medos

falaciosos navios navegando

em mares de poeira, cinza e segredos

esfacelando os oceanos suspensos

criando ilhas purpúreas,

rochedos encantados

e melodias embriagadas que soarão

como o mergulhar de uma pedra atirada nas águas

fazendo das marolas concêntricas

a Idéia que pressinta a chegada e a partida dos ventos

tonteando os redemoinhos de tanto girar

em espirais navegando nas águas até se acabar

retorcendo o instante empíreo e absoluto

até que tudo que fica em pé

e tudo que se arrasta

e tudo que voa

e tudo que nada

prescindam do aqui e agora

antes de serem friáveis ao toque

pois tudo que É

é Uno

e fora do pensamento nada há

o final da tarde girando os girassóis

entre os vermelhos e os amarelos

nos quais se desfazem os dias

soa esta canção desmedida do vento que reverbera memórias

e traz a noite lentamente

girando o mundo mais uma vez

a lua sustentando a noite com sonhos e estórias

o dia desvanecendo por detrás das montanhas

acossando o abismo do tempo

e o plangente urdir das horas

engano dos homens

antepostas aos seus passos e ao que ele é

infinito e irrequieto segundo

sortilégio de sopro, suor e sêmen

estrelas de tule e organdi

acendem o céu

imenso e fugitivo dos pássaros

distendendo-se pela tarde opalescente

fazem a noite rediviva

para que eu durma acalentado em teu ombro

pelo marulho das ondas

roçagando um pequeno barco à deriva