IDADE DO PAI

IDADE DO PAI

Em breve aniversario.

Inventario, então, breves-longos dias,

a vida, as longas noites e,

ora ora, tantas auroras.

Subida ao Ida,

onde tudo é silêncio -

Homens e Deuses -,

onde o horizonte oscila:

o divino e o humano,

o mortal e o imortal,

o duplo...

A vida e a morte,

o obscuro e a claridade;

o tempo, a idade...

Experiências comoventes:

inventario minha infância,

minha juventude,

minha juventude já ida...

Subida ao Ida,

e o horizonte oscila.

As palavras e as coisas:

nomear a data da morte do meu pai.

Inventario...

Aniversario e já quase alcanço a idade do pai!

Extrema estranheza,

como inventariar o tempo?

quantas estranhas sensações!

Maltrata estar ciente de que tudo

dizer é insuficiente.

Ah, deusa linguagem!

a cada fórmula um arranjo fechado,

mistérios jamais dominados.

Vivo a morte do pai,

enquanto morro a minha própria vida.

Tomo o lugar daquele,

entretanto aquele toma o meu lugar.

O extremo da tensão:

vida morte se tocam.

Extrema-unção:

Heráclito, o obscuro... Tudo-Um.

Extrema junção:

morte vida atadas N-Um...

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é inverno de 2007.