Suburbano

Sou da capital/

Com raízes do interior/

Fui morar na periferia/

Porque é a imposição do dia-a-dia/

Em meio ao alagado/

Meio soterrado/

Num simples palafitado/

Não tinha água encanada/

Não havia luz/

Não havia unidade de saúde/

Tão pouco professor/

Quando a policia se vestia/

Era pra prender ou matar aquele que ali era negro ou parecia doutor/

Quando um carro se aproximava era pra comprar droga/

Pra prostituir nossas meninas/

Ou pra deixar cestas de favor/

As ideologias do tráfico se fortaleciam/

As igrejas vendiam em cada esquina/

Salvação, remédio imediato para sofrimento e dor/

As amizades só levavam a futilidades/

Se você embarcasse/

Se você encarasse/

Seria bala perdida, entregado ou entregador/

Minha mãe trabalhava numa fábrica do Pelor/

Ganhava um salário de morte/

Pra deixar o seu sangue, sua alma e o seu suor/

Quando chegava em casa/

Se chegasse/

Vinha no expresso do horror/

As vezes não tinha o que comer/

As vezes só se tinha uma prece/

Mas o governo do lobo sempre esquece o que juramentou/

Por isso, se não ler um livro/

Pra poder dar um grito/

É o que eu digo/

A gente passa a vida dizendo sim, sim, não senhor/