Se os olhos refulgissem a minha alma
Se os olhos refulgissem a minha alma,
e esta voz exprimisse o belo canto
que os seres dentro em mim entoam tanto,
viveria sereno e com mais calma.
Porque nas explosões dos universos
em minha consciência residentes,
que incendeiam o espírito dormente,
fazendo deste corpo um ser possesso,
não prorrompem na estética do externo,
que nos dias é lânguido e macio,
mas nas noites é cálido e bravio,
almejando p'ra sempre ser eterno.
Não há no corpo ignóbil uma imagem
que denote o brilhar que há em meu peito,
só uma fresta por onde então espreito
a abjeta vida real, uma miragem.
Ah, se eles conhecessem toda a vida
que pulsa muito além do coração!
Se soubessem que não faço na ação
toda ânsia que na mente vai retida!
Como a fruta que estoura ao se morder,
há algo em mim que deseja a liberdade,
mas que ainda se agrilhoa, e já é tarde
p'ra afrontar com vigor todo o saber
que se empilha nos cantos desse mundo,
a erguerem-se como épicos gigantes,
sôfregos de levar o quanto antes
a rasa carne e o espírito profundo.
Se soubessem, ó Deus, se eles soubessem
tudo quanto compreendo e, logo, penso;
se sentissem metade desse intenso
ardor que me domina e não conhecem,
ficaria aliviado em assistir,
atrás de um riso largo e satisfeito,
o arder do fogo que há dentro em teu peito,
que tampouco imaginam existir.