DERRETIDO - para Sylvia Plath

O egoísta deprimido retorna,

anuncia que o natal é uma época difícil

já não escreve, não canta.

E diz mais, lamenta viver sozinho no mundo

nessa época triste,

diz que sente sua falta

a falta asfixiada da sua companhia triste.

Ele vivera como a cigarra da fábula o ano inteiro,

vivera cantando o amor que perdera mas cantava

alegrando as moças encantadas por seus

poemas tolos o ano todo.

Agora retorna, afinal é natal...

O mundo é ingrato, não reconhece

que é difícil para um homem viver só...

Ela deveria dizer: “todos os dias,

imersa na densa bruma das vésperas amargas,

na madrugada, te esperei”,

mas se cala porque ele não vale

o calor d’uma chama que se apaga

no fim de uma tarde desta época difícil,

triste e asfixiada.

Então, ele vai embora vestido para o frio anunciado

e ela derrete o metal intratável

porque escreve.

*

*

Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 14/12/2015
Reeditado em 13/12/2017
Código do texto: T5479610
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