DERRETIDO - para Sylvia Plath
O egoísta deprimido retorna,
anuncia que o natal é uma época difícil
já não escreve, não canta.
E diz mais, lamenta viver sozinho no mundo
nessa época triste,
diz que sente sua falta
a falta asfixiada da sua companhia triste.
Ele vivera como a cigarra da fábula o ano inteiro,
vivera cantando o amor que perdera mas cantava
alegrando as moças encantadas por seus
poemas tolos o ano todo.
Agora retorna, afinal é natal...
O mundo é ingrato, não reconhece
que é difícil para um homem viver só...
Ela deveria dizer: “todos os dias,
imersa na densa bruma das vésperas amargas,
na madrugada, te esperei”,
mas se cala porque ele não vale
o calor d’uma chama que se apaga
no fim de uma tarde desta época difícil,
triste e asfixiada.
Então, ele vai embora vestido para o frio anunciado
e ela derrete o metal intratável
porque escreve.
*
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Baltazar Gonçalves