Projeto para uma praça

Projeto para uma praça

Paulo Franco

Esse comércio de olhar,

esse esfregar de luz,

eu a ficar torto

como o anjo do poema.

E agora, moça?

Melhor, estive a pensar

(nada anjo e parco poeta),

é que fechemos os olhos:

ora para lá,

ora para cá,

como no velho brinquedo,

duas crianças, suadas

de silêncios vividos.

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Há de ser uma praça,

sombras, sol difuso,

pessoas ao largo,

bancos em desuso.

Eis que chega a moça,

olhar distraído,

fonte do ânimo,

permanente libido.

Abraço, olho próximo,

assunto indireto, calor.

O perfume, o vestido,

minha timidez em mãos,

a sequência do olhar.

Meus cigarros...ela não fuma.

Enfim, a voz,

suave como ninho de uvas.