TORMENTA
TORMENTA
A tormenta não se afasta
Não há ventos que a carreguem
Cada vez mais plúmbeas as nuvens
Que escurecem até onde a vista alcança
Os pingos começam a cair
Aos poucos crescendo
Em tamanho e intensidade
Que será da cidade
Toda impermeabilizada
Negra de asfalto
Onde agora não correrão carros
Mas águas em correnteza
Que não obedece limites de velocidade
E vão abalroando muros
Invadindo casas
Carregando lixo
Oriundo da imundície do povo
Que passa a verter copiosas águas
Salgadas pela perda
Do tudo que já era nada
E nada sem estilo
Para qualquer abrigo
Que possa guardar
Sua falta de bens e de vida
Sua eterna pobreza de espírito
E então jogam a culpa
No Deus que pensam e acreditam
É aquele que patrocina sua desdita
Pobres diabos que por aqui militam
E não querem em nenhuma hipótese
Ser sua imagem e semelhança
Preferindo chamar seu nome em vão
Até a próxima atormentação