Passagens
Na noite os fantasmas assombram alguns sonhos
enquanto anjos passam por outros.
Esse mundo que entra pela retina fechada e aguça todos os sentidos
com o poder da vida paralela,
esse universo inconsciente e transcendental,
porta aberta para viagens que não temos o menor controle e voa-se.
Transmutar num leão passeando na Savana Africana, sem medo algum,
dono imponente dos músculos que abriga.
De repente o velho é uma criança de colo,
embalada pela mãe que já está no outro mundo, sente-se protegido.
Um banquete de especiarias, onde a fruta tem gosto estranho,
que gosto é esse? Prova-se outra coisa.
Um cachorro roendo o osso, pedaço de pau, agora é floresta.
Passa um rio que segue para o Oceano,
as ondas são crianças que passam a brincar de roda.
O jardim é leve, mas tem um muro onde entra um estranho armado,
muda-se de estado, corre-se, corre-se muito,
fuga, corre-se com toda a força e não se olha para trás,
pula-se em um abismo, some no ar e
volta-se à cidade junto aos passantes que olham lojas e saem do trabalho,
agora já é tarde, crepuscular, senta-se no banco da praça e alimenta os pombos.
Outro se chega, dialogam sobre a cor alaranjada que tomou a Serra,
fuma-se um cigarro.
É agradável quando aparece a primeira estrela, ela brilha e é enorme,
dessas que ninguém nunca viu,
o céu enche-se com a força de reverberações de luzes, avista-se a Galáxia.
Não, eu não quero me perder nem morrer no meu sonho.
Quero morrer acordado num desacordando, no sonho não.
No sonho eu quero achar a saída para a vida.
Mesclar o sonho e a história, em passagens de amor deleitoso de sol e lua.
Sonho tua boca e quando eu for acordar a beijo,
salivando a vida, babando sonhos.