Marítimos, olhemos o mar.
A superfície está entediante.
As águas refletem o voo alto das aves competitivas.
Necrófagos abutres e águias fazem do céu um cenário de frivolidades.
Não ouvimos o canto genuíno das asas livres.
O espaço se molda a um som tirânico.
Naufraguemos!
 
Não, não olhemos o mar.
Meros reflexos podem nos capturar.
O ar gélido entra em nossas narinas carregado de sais opióticos;
a mente divaga. Temos sede.
O dia submerge.  A noite nos espia com olhos sepulcrais.
Uma lucidez ainda clama por nossa existência.
Corpos translúcidos boiam ao sabor de contendas contingentes;
não nos percamos em míseras diligências.
Temos sono. Temos fome. Temos no sangue um dormir ondulante.
Porém, façamos desta noite um sonhar em terra firme.
Retornemos ao cais!
 
Ana Liss
Enviado por Ana Liss em 10/12/2015
Código do texto: T5475453
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