Da Borboleta - II
Clara borboleta pousou nos olhos do dia,
sobre a luz fria do sol de pupila preta;
e minha ampulheta de areia sombria
parou o que morria pra viver, borboleta!
Ah, borboleta clara desse sombrio galho!
já vejo grisalho, o sol que (negro) ficara;
e nessa seara, onde colhia o alho,
colho o orvalho feito de lágrima rara.
Pois se choro agora, não escorre tristeza;
flui a delicadeza; que não cai, evapora
da pétala da hora, minuto de leveza;
e toda a frieza do sol, que já não chora,
sinto indo embora nas chamas da beleza,
borboleta acesa, que pousou na aurora.
08-12-2015