COMIDA ROUBADA

O que pode o homem rude e apaixonado/

que não cantar o blues e o rock'n'roll/

à moda das guerrilhas radicais da religião? //

Nesta cidade de sombras loucas/

a conspiração é real/

prefiro ficar que nem anjo desligado/

bebendo vinho no crânio da caveira

sentado na chaminé apagada/

da fábrica falida/

onde a minha alma queimada é um rasgo/

no céu que me escorre pelos dentes//

Política é lugar de santidade nenhuma/

por isso minha igreja é do rock'n'roll/

o direito urbano além do esconderijo/

é a comida roubada/

a cerveja é para o espírito assim como a medalha/

é a herança na vaidade do abestalhado//

Caçar é para ser de máscara/

do contrário tartarugas e lagartos/

desfilariam limusines nos carnavais/

por isso sigo você pelo telescópio da cobiça/

armado apenas de dentes e ostentação/

a moeda de troca é a foice do carrasco//

não desisto de você/

a escalada social/

é um compromisso de sangue e destino/

mas só o excesso distingue o homem do submisso/

porque nossas intensidades esgotam a noite/

quando mergulho estrelas/

nas suas carnes abertas em fúria em fúria abertas

carnívoras grelhas