A vida é
A vida é este tolo lutar sem fim
Esta alegoria estóica
O mar à espera dos gregos
A poesia de Homero
Este fogo aceso e indômito queimando os barcos da volta
A pedra e a montanha de Sísifo
Ou a metáfora das sagradas escrituras
O crepúsculo sobre o mar
A tarde submergindo nas águas
Ou, simplesmente, a espera de um rio
tomando em seu leito a distância das manhãs
levado pelo Éon dos sentimentos
que viesse a molhar
as claras sombras das auroras
e envolvesse em névoas as pessoas
e a chama despida dos sonhos
e os fizesse vicejar
ondulando entre estrelas
da noite que ainda não se foi
e sóis exaustos e abrasadores
da manhã que ainda não é
A vida é o eterno amor inconsentido
centelha acesa dentro do agora
A carícia eterna e madura
dizendo silêncios
A ternura intocada da noite
Os lençóis
ao relento do cansaço no fim
O choro doce da água no deserto
A brisa amena e porosa
Uma janela entreaberta
entre os sonhos vagando no quarto
e as flores colorindo os quintais
Esta sensação doída e indistinta de finitude
A intuição da Liberdade
negada,
subjugada a cada instante
A vida é agora e avante
Os espaços vazios da Verdade
As covas vazias onde se semeia a morte
que nos vai levar um dia
Enquanto o homem semeia guerras
e vocifera aos quatro cantos
a sua indômita arrogância