PURAMENTE
 
Esse meigo jeito de olhar
ainda que olhe brava
trava-me o pensar
quase um susto
mudo descaso saio
caído de sonhos
que tive
ontem à noite
talvez seja possível
outro brilho azul de dia
iluminar meu canto
que canto de pássaros
estranhos agora
vibram nas alturas
que loucura de bem estar
que foge sem estar
de verdade aqui
uma barraca com área
de frente a lagoa
falava garoa fina
sobre meus olhos
chocolate quente
servido num tampo
bruto de tronco partido
doces frutas
num pano de fundo do campo
águas mornas margens
beijando areia
sereia nos braços
de feixes dourados
laçando meu rosto
no sopro dileto
de tudo que é secreto
entre dois amantes
sofro de coração partido
quando partindo
vai embora sem motivos
olha de soslaio prevenida
o homem do lado
que seja o homem de sua vida
e possa dar-lhe
tudo que escapa de minhas
mãos
vagas mãos perdidas
traem as coisas trazidas
as flores benditas
ofereço-te p’ra sempre
nada do que foi
poderia ser
e se foi
nunca foi mentira.