Tia Gerarda

Tia Gerada morreu.

Foi assim que a notícia chegou a mim.

A nós.

Mas nunca, dantes, tia Gerarda esteve tão viva.

Trocar o L pelo R não terá sido um erro de registro.

Geral é genérico.

Gerar é singular.

Tia Gerarda gerou em mim um revolvimento de genealogias.

Sangue salgado esparramado em árvores de raiz

no qual vejo a verdade minha, Vera,

recebendo titia,

como a ela se referia.

Eu pouco sei de Tia Gerarda.

Não conheci seus segredos

seus medos

seus sonhos.

Eu pouco sei do mistério escondido

atrás do rosto de mulher

vida.

Mas, tia Gerarda habita em mim,

em nós.

Vive no poema que confirma a teia

de gerações que nos habitam

uns aos outros...

uns nos outros...

No sangue e para além dele...

No que sabemos e no que só intuímos...

Vive na ignorância nossa

sobre o sentido da morte

para a vida.

Tia Gerarda está viva...

É o que noticia o poema.