Lá, Onde eu Sou Poeta
Existe uma terra longe,
Lá, onde eu sou poeta,
Onde Bocage é asceta
E Pessoa se esconde
Por trás de seus codinomes.
Shakespeare está perdido,
Entre os sapos de Bandeira,
E Florbela não é triste:
Ri da dor que ainda insiste,
Canta e dança a noite inteira!
Lá, onde eu sou poeta,
Augusto não é dos anjos,
Mas amigo de Neruda.
Quer beijar a boca muda
De Cecília, que segura
Pelo braço, seu marido
Mal comido e mal roupido.
Existe uma terra estranha,
Surreal, onde eles andam
Procurando suas memórias,
Esquecidos de suas glórias
os poetas já morridos
E os ainda não nascidos.
Lá, onde eu quero estar,
Nossas letras se confundem.
Somos alvos de mil setas,
Somos grandes e pequenos,
Entre amargos e amenos
-Mas somos todos poetas.
De
Lá onde canta o dom
desvestido e mal dormido
se festeja o não sabido
terra de muita guerra
da paixão e dos sentidos
que desata nós sentidos
vale do calor
onde não se festeja a dor
só de abraço vive a cor
que se doa em muito amor
sob véus soberana
surge enigmática flor.
Muito bom Ana, é o Vale onde nada se vence, onde são vencidas as hipocrisias.