POSTE DE LUZ

O poste vivia solitário.

Acreditava existir

Espaço demais

Entre ele

E seus vizinhos.

O poste nunca

Era visitado

E nunca visitava.

Não ganhava

Bom dia ou boa noite.

Seus semelhantes

Eretos são duros e frios.

Mal se ligavam por fios.

Podia fazer chuva

Sol, nenhum dos dois,

Ficar doente, estar sadio.

Nenhuma boa política

Amenizava aquela

Distância imposta.

Apesar de os postes

Serem de Luz

Tinham condutas

Escuras e avessas.

Mesmo nas noites

Quando um poste

Ficava sem luz

Outro jamais

Ia visitar o apagado,

Pois não há maior

Tristeza a um poste

Que não ter luz.

Nada os compadecia

Nada. Ao poste

Solitário, não restou

Muita saída

Teve que se contentar

Com algum humano

Usá-lo de encosto

Um pássaro

Fazê-lo de poleiro

Ou esperar o quente

Xixi de um cachorro.

Os afetos mais gentis

Que enquanto poste

Poderia ansiar.

Com seus iguais

Continuou a ter

Milimetricamente

O disposto

Espaçamento, afinal,

Nada podia fazer.