Ode ao Poeta

Oitenta anos...

Partiu Pessoa no mar salgado.

Agora sou eu que estou no cais,

nesta tarde de verão.

Mais um ano parte...

Qual navio,

rumo a tempo e espaço em devir.

Olho para o indefinido, assistindo à tarde

que me acordou repassar.

Revejo os navios

idos e vindos nas águas

que banham meus pés...

Descalços...

Sem amarras...

O navio ao longe

indaga meus olhos.

Um calafrio arrepia meu corpo.

De repente,

mais de repente

do que da outra vez,

de mais longe,

de mais fundo,

a excitação de todas as minhas veias...

Pavor?

Eu juro que esse poema é meu.

O vermelho não anoiteceu...

O poeta é um fingidor!

Nada perdeu poesia.

Ó mar! Ó Poeta!

Ó Pessoa! Ó Ulisses!

O olhar demorado dos faróis na distância da noite me penetra...

Ou o súbito interior do farol

muito próximo do sonho na noite escura...

Desvejo.

Sinto.

Que terra era aquela

perto da qual passamos?

Foi apenas um instante aquele

a bordo do mesmo navio?

Por que aportei só?

O som da água continua a cantar em meus ouvidos...

Tudo vivo....

Mistura de gente a bordo,

cantou o Poeta.

Tranpõem-se espaços...

Ao longe,

continua o navio...

Perto, o desejo de gozar...

Qual Pessoa...realizando

um grande número de sonhos.