A MULHER DE PASÁRGADA

quando confusas

mesmo as exatas

medusas

se transmutam

em musas

Paulo Leminski

Seguiu a fila do ônibus

Uma mulher de cabelos louros.

Reparei num acontecimento inusitado

A cada estação de parada

A cor do cabelo da mulher mudava.

Ora preto, ora ruivo

Ora castanho, ora azul

Ora louro de novo.

Encantei-me com tal enigma

Aproximei-me e perguntei:

“De onde vens e para onde vais?

Ela sorriu cordialmente e respondeu:

“Venho de Pasárgada e para lá me vou.

A mulher tinha uma voz de doce encanto.

Não pensei em mais nada

Seu cabelo transmutava.

Ela era uma medusa moderna

Que não transformava nada em pedra.

Larguei tudo e fui-me embora

Junto com ela para Pasárgada

Envolver-me naquele mistério poético.