Sina de escritor
A sina do escritor é escrever
Simples assim, debruçar
Sobre o papel ou a tela
E a alma, com palavras, esmiuçar.
Engana-se quem pensa
Quem escritor é herói
O que ele concebe não é dele
É água da fonte pública.
E dessa água, com algumas pitadinhas
Faz-se algo colorido, ou negro
Na banalidade da massa insípida
Ele traz o elixir do pensamento.
Mas não é por dó
É por egocentrismo
Escritor gosta do que faz
Gosta, mesmo quando odeia.
Mas quando odeia, mesmo assim
Ainda deixa de gostar
Amaldiçoa-se, joga a culpa na vida
E escreve mais ainda seu ego culpado.
Ele enxerga além...
Mas não muito.
Às vezes, nem um palmo
Diante do nariz.
Quer glória, quer bajulação
Ou só quer mérito, denominação
Quer compreensão, quer multiplicação
Ou só quer entre as letras a solidão.
Sina de escritor é ser escritor
Quando reconhece-se como tal
Deixa-se de ser mero mortal
E passa-se a ser algo mau.
Algo mau... Algo bom...
Dizer o que ninguém diz
Mostrar o que ninguém vê
Enfeitar o inacabado.
Algo bom... Algo mau...
Ser o que é
Ser o que quer ser
Ser o que os outros querem
Algo bom... Algo bom...
Abrir as mentes
Fazer história
Parir a luz em sua mente.
Algo mau... Algo mau...
Perder o juízo
Devanear em realidade
Sofrer em irrealidade.