VIVO E DESNUDO * Tu
Não sei que existe em ti que me embriaga
e o tempo não corrói nem adultera...
Talvez a eternidade duma fraga,
perfume de perene primavera...
Os anos passam sobre nós, correndo,
até que chegue a barca de Caronte...
E és sempre mais um longe que desvendo,
mantendo-te infindável horizonte...
Querida, não sagrada, te contemplo,
por teres de mulher a dimensão
que não te podem dar exíguo templo
e incensos, ritos, preces, devoção...
Tu és grande de mais, mulher, e viva
p'ra seres de qualquer altar cativa!
(In "vivo e desnudo", 1986, Editorial Escritor, Lda., Lisboa)