Poema para um Amor - III

Já me disseste

Da inutilidade das minhas confissões

Pergunto-me então, repetidas vezes

Por que prossegues entre meus versos

Se tudo é permanente miragem

E sempre te descobrirei

Em negações e renitentes deserções?

De que me servem tantas palavras

Se minhas mãos não alcançam

As linhas em que te debruças

No teu idioma de silêncios

Quando as tuas letras ocultam

O que te devolveria a ti e a mim?

Resta-me entre as mãos

A voz dos gestos incompletos

A linguagem jamais expressa

O timbre rouco de todas as carícias

O sussurro do olhar incontido

O murmúrio rubro do desejo

Resta-me os lábios órfãos

O indefinido gosto da tua boca

A desfocada impressão dos teus olhos

Acordando cada um dos meus dias

A vertigem de dizer-me tua

O som inequívoco do meu corpo

Pronunciando-me para as tuas mãos

E se nada ouvirás

Se cada verso apenas prolongará

Essa confissão desmedida

De que adianta descrever

A nudez do meu peito

O soletrar de cada olhar

O consentimento que nasce

Quando apenas em ti penso?

Fernanda Guimarães

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Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 01/03/2005
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T5462