Poema para um Amor - III
Já me disseste
Da inutilidade das minhas confissões
Pergunto-me então, repetidas vezes
Por que prossegues entre meus versos
Se tudo é permanente miragem
E sempre te descobrirei
Em negações e renitentes deserções?
De que me servem tantas palavras
Se minhas mãos não alcançam
As linhas em que te debruças
No teu idioma de silêncios
Quando as tuas letras ocultam
O que te devolveria a ti e a mim?
Resta-me entre as mãos
A voz dos gestos incompletos
A linguagem jamais expressa
O timbre rouco de todas as carícias
O sussurro do olhar incontido
O murmúrio rubro do desejo
Resta-me os lábios órfãos
O indefinido gosto da tua boca
A desfocada impressão dos teus olhos
Acordando cada um dos meus dias
A vertigem de dizer-me tua
O som inequívoco do meu corpo
Pronunciando-me para as tuas mãos
E se nada ouvirás
Se cada verso apenas prolongará
Essa confissão desmedida
De que adianta descrever
A nudez do meu peito
O soletrar de cada olhar
O consentimento que nasce
Quando apenas em ti penso?
Fernanda Guimarães
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