FRÊMITOS
Recebo uma ordem expressa
vinda d’algum lugar e me ponho a cavar!
Cavo terrenos, busco sítios,
reviro demarcações históricas.
Acho apenas sonhos,
angústias, mágoas, quimeras...
Nova ordem. Cave mais!
E vou eu garimpando achados
da arqueologia humana.
Agora são “visagens” quase reais.
Vultos ancestrais que me surgem...
Mais uma ordem me chega.
Vá lá, cave mais. Mais ainda!
E tento. Tento cavar. Não dá.
Não se pode passar daqui.
Sinto só o breu da escuridão.
Nada pode furar essa laje fria...
Ouço, contudo, vozes de alhures!
Nesse escuro fosso percebo murmúrios
que claramente me chegam
vindos do outro lado da rocha...
Não são sons do outro lado,
diz-me a voz nesse momento!
São frêmitos, gemidos, ais,
da culpa que habita em teu peito
que sangrando os sibilam, amplificados...