DIÁLOGOS
-- a vida? -- perguntam a ele -- o que acha?
-- a é pura bobagem.
-- sério?
-- sério.
-- por quê?
-- porque qualquer horizonte a cala.
-- mesmo que não queira ela existe em você.
-- não acredito nela é pura bobagem. não é verdadeira. ser humano é triste.
-- não estou entendendo?
-- não queira, não é necessário.
-- é preciso.
-- somos camundongos em ratoeira. disseram-me que sou pessimista. não enxergo desta maneira. sou eu. sou todos vocês. sou dor, tristeza, alegria. sou simpatia. sou destemido. sou ruindade.
-- por que escreve deste jeito?
-- como acha que escrevo?
-- desta maneira, beira chulo.
-- ha, vai ver é de nossa natureza. ser humano é triste. chega doer.
-- ei cara, não estou te criticando.
-- também não o crítico.
-- que triste, gostaria de ajudar.
-- viu, já se perguntou quem precisa de ajuda aqui?
-- não sou eu quem pisa na merda.
-- piso naquilo que cagamos.
-- valeu cara, não quero mais papo contigo. você é muito pessimista.
-- ta bom, mas, não sou eu quem usa remédios.
-- é, mas deveria. Assim não vai longe. seu futuro seria brilhante, caso queira que seja, ele ainda está lá.
-- essa porra se chama religião. eu não sou devoto.
-- até mais João. você está louco cara. melhoras.
assim foi tratado dia à dia. com tapas à cara desempenhando ritmo da socialização. tudo gira ao seu redor, seu mundo, seus discos, sua cabeça. tudo gira, inclusive caneta em mãos. o próximo a girar será João. todos dizem, João não é nada. não faz o certo só coisa errada.