B r a s a s
Cedo, o sol já estava tão quente queimando a minha pele
Essa mania de caminhar me aquieta
Fui por aí falando sozinha ouvindo os pássaros,
A cada momento sondando as raras flores da cidade,
Elas sorriam. Eu não...
A essa hora, o que será aquilo? Incêndio?
-Uma fogueira, e tão linda em plena manhã!
Que chama!
As suas cores me prenderam
Paro e pasmo.
Que dia é hoje? Estamos em junho?
E em que mês estamos, em que dia!
Esse presente maravilhoso, único, é o que eu tenho
Até que horas? -Não sei.
Só isso? Ou tudo isso? Contento-me; É a minha vida.
Nesse instante as folhas se multiplicam
As nuvens festejam não sei o que
Nasce e morre, tantas coisas!
Sinto-me aos poucos também morrer
Somando às estatísticas a minha tristeza.
Cética estou...
Que absurdo,
Eu que tanto sonhava. E acreditava até no amor.
Coloco a mão sobre o meu peito
Sinto-me o quase fim, como o daquela fogueira
O meu coração está em brasas.
Volto à estrada vagando para mais um dia.
Pronto já vivi. E agora o que faço?
Silêncio... O dia já foi. Para onde lhe levou?
Cheguei... -Boa noite casa.
Boa noite meus gatinhos ...-Elvira e Dom Vivico,
Vamos à ração, água... Carinho? Hoje não tem não.
Desculpem-me.
Boa noite computador tão sem graça,
-Sem respostas...
Boa noite mesmo assim minha flor.
Afinal ainda não morri,
Obrigada Deus por mais um dia
Deve haver alguma razão ainda pra eu estar por aqui...
A vida não é só isso. -Ou é? Pois... Que seja.
Amanhã não sei se estarei viva para caminhar
Hoje eu nada sou,
Se eu estiver... Se eu ainda for. Repensarei em tudo.
Liduina do Nascimento
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