"CASADO OU SOLTEIRO"
Quando mais novo
um jovem a mais tempo
direcionou pergunta
cheio do entusiasmo
com alegria nos olhos
pronuncia destemida
de sua cadeira lá longe
confortado pelo recuo da casa
frente enorme cedro
e pequeno poço
"casado ou solteiro?"
mirando à rua
trajeto de costume
passava por ali todos os dias
ligando a distância
entre casa e escola
sempre ao vê-lo
sentia costumado frio
pequena ponta de insegurança
percebia,
que estava sob guarda e vigilância
de tamanhos olhos
tomando caminho de casa
seguia sem respondê-lo
mesmo assim, dia após dia, tornou a perguntar
"casado ou solteiro?"
acostumado com trajeto
buscando desnudar de seus medos
admirando incansável insistência
ele com bigode branco
cabelo grisalho
suspensório esticado
barriga encobrindo calça
em cadeira de ferro
almofadada em tecido vermelho
espera sem pressa
por voz sem força
sem jeito
sem timbre definido
treme as cordas
envergonhado
acanhado por resposta
"solteiro!",
não tem como saber se realmente ouviu
responde com imenso sorriso
com gesto de cabeça
concede permissão para prosseguir
"senhor tenha boa viagem"
dia à pós dia alternava resposta
ora respondia "casado"
ora respondia "solteiro"
"senhor tenha boa viagem"
o garoto nunca respondia a deixa
até que não ouviu mais a voz
então fez ele mesmo a pergunta
baixinho,
quase sussurrando ao pé do cedro
"casado ou solteiro?"
não ouviu resposta
apenas o vento sorrateiro sopra ouvido
triste e contente ao mesmo tempo
segue infeliz cotidiano
na falta de feliz pergunta
encaminha destino
"solteiro!"