Paris, quem faz as guerras?

o tempo instante início da bomba

é o mesmo tempo instante do seu fim

quem passou ensandecida foi a intransigência

quem se moveu foi a coação enganosa

de um ponto a outro

onde poderia caber vidas inteiras

cabe a morte

onde poderia caber

um poema

discorrendo a eternidade sem palavras

articulado no imponderável

do tempo e da sua inexistência

contumaz e genuína

cabem cicatrizes

e o gosto acre da loucura humana

a intolerância é medida do homem

escalavra o homem

com seus delírios de poder e superioridade

e suas bombas

e suas armas

e suas guerras

e seu descaso pela vida

a bomba existe

a bomba é triste

a bomba é a amargura do homem

a bomba é a pedra na mão do homem que não cresceu

a bomba é o bullying dos senhores da guerra

a bomba é a fome e o lucro do ditador

é o confinamento

é a incoerência

arquiteta da morte

sentada nos gabinetes

olhando o mundo pela cegueira dos países

onde a idéia de uma Babel impera

sobre a idéia de uma mesma e única Nação

semeia discórdia e ruínas

alimentam ódios e preconceitos

e continuam,

qual meninos arteiros,

atirando pedras (bombas) uns nos outros

a bomba de tanto cair lá

como um animal vicioso

fez-se verdade

na vaidosa e linda noite de Paris

é triste

tudo é tão triste

nesta sandice supra-animal

onde o humano queima-se nas fogueiras

dos sempre velhos e mesmos atos

a bomba não morreu em Paris

por que foi assim que o homem quis

por que o homem não pode mais parar de matar

é triste

ver esta noite de novembro dissolver-se

e tornar-se vermelha

é tudo tão triste

como o lamento de quem

chora sobre o ódio

que ativará outra bomba

em Paris, Síria, Nova York,

ou em outro lugar

onde a covardia e/ou a bestialidade mandar