Réquiem

Réquiem

Há tanto tempo maltratam-me,

Há tanto tempo devastam minhas margens,

Há tanto tempo invadem meu leito,

Há tanto tempo arrancam minhas sombras, desmatam minha morada,

Há tanto tempo sufocam minha nascente...

Há tanto tempo venho gritando: Socorram-me!

Quem me ouviu?

Quem viu meu sofrimento, minha agonia?

Quem tomou minhas dores?

No meu solitário caminhar, no meu silêncio, gritei tanto... Poucos perceberam.

Houve épocas que chorei tanto que de tantas lágrimas transbordei,

Saí do meu leito, invadi casas, algumas derrubei.

Pontes destruí, margens desbarranquei.

Mesmo assim, ninguém percebeu a manifestação da minha agonia.

Continuaram ignorando-me!

Encheram-me de lixo, dejetos de toda espécie... Efluentes industriais tóxicos.

Colocaram em risco de extinção meus amiguinhos – os peixes, toda a fauna nativa,

Que mesmo morrendo e, as duras penas, vinha sustentando-os.

Eles se uniram a mim, solidários na minha dor, passaram a morrer comigo.

Há tanto tempo sugando-me... Desidrataram-me...

Meu sangue derramado, usado de forma perdulária...

Desperdiço!

Agora, fraco, desidratado... Seco, vísceras expostas- pedras e bancos de areia...

Quase moribundo, o tiro final...

Enlameado!

Todos na lama... Sujos, sedentos, ávidos...

VAMOS SALVAR O RIO DOCE!

Céus!

Bnandú nov/2015

BNandú
Enviado por BNandú em 21/11/2015
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