mary

viajantes somos

escritores somos

máquinas de fazer vida fomos

nômades somos

cientistas somos

involuntariamente amalgamados fomos

você foi a menina que dançou no hi-fi

e os alto-falantes quase não viram

a beleza que se exalava na sala de dançar

e tua dança era quase incipiente

quase artificial, mas natural por uns instantes

e cabe a poucos detectar a extrema beleza dos pequenos instantes

e naqueles lapsos de tempo

tua dança mudava o mundo pra melhor

e, te digo, ainda hoje, passadas as modas,

cada vez que dança o mundo fica melhor

mas não sou dançarino profissional

sou palhaço profissional

um homem de muita palavra e muita mímica

um homem de pouca dança

diferente de você que pára o tempo

com sua dança debochada

parecendo, assim, debochar do tempo

entre nossas lágrimas e aritméticas

posso saber qual é a tua

a tua é brincar de parar o tempo

mas poesia de papel

ou poesia de tela de computador

estão abaixo do que é tua vida

que também é minha

temos algo que está além de palavra

escrita ou pensada

a compaixão e a dança das grandes criaturas

onde tu danças e eu contemplo

onde nosso quarto é um templo

onde nossa casa é a luta

onde nossa comédia é o drama

onde nossos planos são a trave

onde há insetos na grama em que deitamos

onde a música nos faz chorar

onde nosso inglês de mentira

é a verdade do teu belo nome

e a vida é um eterno hi-fi

cheio de jovens belos e confusos.

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 29/06/2007
Código do texto: T545642