Os sonhos brotam

os sonhos brotam nascem e florescem

os sonhos derramam-se

ou caem

e rescendem

os sonhos minguam

ou crescem

imagens tardias e leves

germinam,

anoitecem,

tateiam lembranças

convulsos ou brandos

o homem embosca e colhe sonhos

e os depositam no chão

palmilha medos

enganos

presentes nas névoas soluçantes de ilusão

os sonhos instigantes,

maduros de eternidade e devir,

debicados pelo pássaro

que nunca canta,

que nunca alça vôo

e cuja plumagem

esmaece enquanto o tempo

frágil e inconstante é solidão

são frutos da mais delicada tessitura

os sonhos instigantes

gotejam em cores abandonadas

e em fuga

memórias da vida atemporal

que se desfazem em desmesuradas noites

molhando o oceano envelhecido e hesitante

mas o mar,

há tanto tempo,

foi-se embora daqui

na penumbra acordada nos olhos sem memória

onde o menino que fui

sacode redemoinhos

e olha-os a caminhar rodopiando pelas ruas de terra

varridas pelo vento e a imaginação

permanentes barcos de fogo em fuga

sob a sombra de tantos tempos pousados

nos galhos secos das árvores

e nas sombras secas debruçadas sobre as águas

imerecidas do meu verso incipiente

a vida gorgoleja poeira

os passos, rumorejantes, já foram embora

depois de cavar as covas

guardando a semente para quando vier a chuva

e trouxer as noites cheias de sonhos

que a minha alma disser