Noite sem nome

calo,

o grito entreaberto

o gesto apartado

o amor esparramado nas águas,

escorrendo nas pedras,

pisando a madrugada,

está sublimado em tudo,

em ti,

que os meus dedos possam tocar,

minha boca possa beijar,

que os meus olhos possam pensar

e desesperar pois é noite

e ainda és sonho

os dias condenados ao exílio

a noite asilada,

esbatida,

sonha

e não demora a chamar-me,

mas chama-me excluindo o amor

em algum canto de mim nossas mãos,

repousam entrelaçadas,

também dormem

o instante e o tempo ardem

o instante e o tempo tem o teu sabor

e o ardor

de antes de haver o tempo

antes da incerteza do instante

perpassando os momentos trêmulos

e silenciosamente indeléveis

na mansidão dos dias breves

e absortos

as canções feitas de enganos

vadiam em mim

ilhas desgarradas,

ausentes,

vésperas de mares,

ventos inacessíveis

alguns versos

são azuis

e não se calam

e é preciso que não se calem

para dizerem a ternura

e a delicadeza negra dos teus olhos

dentro da nossa noite sem nome