O avesso do verso
Escrevo porque nada me detém se sou só
Somente as palavras aliviam a minha dor
A dor da solidão, mais sólida do que o não
Dito por alguém a quem um dia se amou
Em vão.
Escrevo porque sei que o inverso é pior
O silêncio me corrói se não me expresso
E confesso a mim mesmo meus pecados
Logo, enquanto envelheço, me descubro
Sem cuidados.
Escrevo porque não sei fazer outra coisa
Que me venha do fundo da alma inibida
Dividida entre a racionalização e a utopia
Para gerar as frases que aborto nascidas
Da agonia.
Escrevo porque tudo é vago nessa vida vã
E vagando pelo tempo que ainda me resta
Resta-me um verso mais avesso por fazer
E vibrar ao me sentir tão pleno e presente
Para ser.