CONFISSÃO

Agora dei para isso; quando menos espero,

a imagem dele está em minha mente, quase ao meu lado.

Zango comigo e falo olhando-me no espelho:

“Criatura, você é mãe de três filhos, é avó”!

Era coisa passada, totalmente esquecida,

perdida como os quase cinquenta anos passados,

na qual, nem mesmo eu já me ligava mais.

Não era, na verdade, coisa nenhuma, desimportante,

apenas lembrança desbotada e que, frustrada,

constatei, só agora, na atualidade, sua unilateralidade.

Coisas da infância, criação da mente, paixão

de aluna, aos seis anos, pelo colega, pelo professor,

como o pote de ouro no final do arco-íris, existentes

apenas, na menina ensimesmada e sensível que fui.

Se o visse, nos dias tão distantes de hoje,

se cruzássemos, via ciladas que a vida nos arma,

a mesma calçada, certamente não nos reconheceríamos;

nem eu a ele, o que lamentaria, e muito menos ele a mim.

Um dia, e que coisa mais estranha é a vida,

sem que previsibilidade nenhuma pudesse justificar,

sem que me lembre como e via quem,

navegando inocente neste bandido e tão querido “facebook”,

vejo sua foto e, o que foi pior, o que foi fatal; li seu texto.

Ah... para que? Mãos trêmulas, nocaute... lona na hora.

Fui adicionada ou adicionei? Nem isso, juro, mais eu sei.

Como disse, não foi lento nem progressivo.

Foi instantâneo, imediato, súbito,

como uma brisa, até um pouco mais forte,

com intensa fragrância de saudades soprando em mim.

Apesar dos anos passados, tonta, voltei a me encantar,

sentindo falta de querer tocar, de ver, de conversar

com alguém para quem, na verdade, nunca existi,

e de quem, a vida inteira ausente, nunca esqueci.

Orlando Pimentel
Enviado por Orlando Pimentel em 18/11/2015
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