EU E VOCÊ
Deixe-me de lado enquanto falo
Sou objeto do teu dom
Tu és um mudo em meus ouvidos,
E sou oculto da tua garganta.
Bailamos entre ondas agitadas
Do teu lado, arrebenta o fluxo
Do meu lado, as águas pulsam...
E bebo coerente, minha mágoa.
Somos relva e erva daninha
Cada um com sua caçada
Distintos trovadores em cada fronteira
De cada lado do mesmo espelho.
Se tua presença não me arranha
Não me culpo pela aversão
Desprezados de nós mesmos
Pelas ternuras que criamos.
Eu e tu com a mesma grita
Esboçados por mãos gêmeas
Do meu canto não te enxergo
Do teu, jamais serei poema.
Somos da mesma vingança
Da terra e do estrume fétido
Parecidos pela intransigência
Solitariamente abafados.
Se somos arroubos, tu e eu
Não será nossa birra o jazigo.
Quem melhor dirá dessa terra,
Que nossa lembrança do outro?
Por mais que eu não prefira
Esconder da alma a verdade
Sinto cada verso que daí vem
Como algo que eu sempre quis.