A LÍNGUA DE ALOBARAP-ARVALAP

Nunca existiu língua

Mais difícil de ser aprendida

Seja escrita, falada ou por sinais

Do que a do país de Alobarap-Arvalap

(A língua e a Nação têm o mesmo nome).

Ninguém sabe a razão

De tal situação enigmática.

Os pais dali não conseguem transmiti-la

Direito aos filhos. Os Alobarap-arvalapianos

Só conseguem dominá-la com perfeição

Após os 70 anos de idade ou mais,

A maioria dos cidadões morre

Antes de ter um eficiente domínio linguístico.

Mesmo nas escolas é dificultoso lecionar

Pois grande parte dos sábios anciões

Estão cansados ou doentes demais para ensinar.

A Alobarap-Arvalap possui inúmeras interpretações

Infindas figuras de linguagem não domadas

Numerosas metáforas complicadas e dúbias

Além de neologismos serem adicionados diariamente

E haver o regresso corriqueiro de palavras em desuso.

Alguns moradores usam de exagerados pleonasmos

Há ainda aqueles que só se expressam por tautogramas

Em uma defesa extremista da letra pela qual tem afinidade.

É astronomicamente trabalhoso decifrar os Signos Línguisticos

De Alobarap-Arvalap, pois são mutáveis sem conformação

É quase impossível determinar, precisar, racionalizar

Uma Sincronia ou Diacronia. Ali tudo parece novo, tudo parece velho,

Tudo é atemporal, tudo é cíclico, tudo é irracional.

A Alobarap-Arvalap é considerada por muitos um paradoxo

Sua sintaxe e semântica são indistintas e sem previsão ou precisão.

A Pragmática de Alobarap-Arvalap é um mito esfumaçado sem contexto

Quase nada da linguística comum é usado naquele lugar.

A Alobarap-Arvalap trata-se de uma língua

Em plena e constante expansão é mutante

Nunca finda, sem horizonte, sem limites

Apesar dos muitos séculos de existência.

Todavia é inegável sua beleza praticamente

Feérica, a cadência e o tom hipnótico

Daquela língua virgem e sobrenatural

Pelo desafio lógico que representa.

Muito se especula sobre sua origem

Alguns dizem ser um código linguístico

Deixado por alienígenas, os Filhos das Estrelas.

Outros dizem ser um presente dos Arcanos do Além.

Há os que crêem tratar-se de uma dádiva

Concebida pelos deuses do velho mundo.

E tem aqueles que afirmam ser a Língua Primeva, vinda

Do ciciar das folhas das árvores maduras do Jardim da Criação

O Sistema de Signos do Alvorecer do Éden

Antes de ser diluído e desmembrado na Torre de Babel

E que por isso, fatalmente lembra a Tudo e fatalmente não lembra Nada

Alobarap-Arvalap carrega o fado de azar e de sorte, uma antítese natural.

O fato é que ninguém jamais soube ou saberá

Qual é a nascente, a raiz de Alobarap-Arvalap

Fator este que torna a língua excepcional.

Quando algum forasteiro por engano

Chega a Alobarap-Arvalap o caos está feito

(Pois aquele é um país evitado e isolado pela falta

De estabelecimento de diálogo em qualquer grau).

Tal evento inesperado e problemático

Exige uma comunicação por sinais

Nunca por fala ou escrita.

Mesmo os sinais de pouco valem

Pois assim como a fala e a escrita

Estes não têm uma estrutura formal

Ou mínima organização significante.

Cada Alobarap-arvalapiano possui

Uma interpretação própria e sentimental

De um determinado sinal; e sua leitura

Sempre é considerada certa e irrefutável.

Nenhum Alobarap-arvalapiano diz

Que o outro está errado em sua manifestação

Ali vale a máxima: “Todos estão certos.”

E realmente estão. Não há discussão ou ditame.

Alobarap-Arvalap é uma língua de mistérios

Bela por sua dificuldade e singularidade estabelecidas.

Ninguém jamais poderá descobrir seus segredos

Por completo. O motivo de ser tão árdua de aprendizado.

Os Alobarap-arvalapianos apesar da dura tarefa

De expressarem-se gostam da língua materna desafiadora

Ela os torna únicos e intocáveis de muitas formas,

Pois eles estão livres de interferências externas a sua sociedade

A Alobarap-Arvalap de Alobarap-Arvalap é uma redoma protetora

O estigma inapagável de uma Nação de cultura e costumes ímpares.

Eu ainda me pergunto o que faz de Alobarap-Arvalap

O mistério surreal e absurdo que o é. Alobarap-Arvalap fez-se lenda

Uma incógnita apoteótica para o tempo e não para os homens.