Fluxo
O vai e vem dos dias
Produz um ruído
A poeira no ar tem um cheiro morno
Paira na cidade uma sombra difusa
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Todos os dias um novo dia
Loucura e mansidão
Os problemas estão nos consumindo ou nos anestesiando
Entretanto ainda restam motivos para rir até perder o fôlego
É estranho, é dúbio
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Já não fazem mais antigamentes como antigamente
Sabe?
Às vezes dá essa vontade
De olhar no fundo do olho e perguntar, em tom de súplica: "sabe?"
Como um grande "diga que me entende"
Porque talvez eu não entenda
Me diga que nada disso é um grande engano
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A lua lá fora brilha impassível
As mariposas na janela
E não, não que esteja perdido
Ou desamparado
Mas talvez eu já não saiba mais escrever
E sinta esse medo de ser muito cliché
Imagina, inseguranças
Fora de cogitação, vamos falar de vitórias
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...
...será que estamos assim tão bem?
Eu gostava mais de quando a gente sabia menos
E nós estávamos à margem de tudo isso
A ignorância é uma benção
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Lembra de quando a gente... lembra? Tudo aquilo que aconteceu
Eu choro só de lembrar... sabe? (de novo o sabe)
Eu preciso que você saiba.
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O fluxo dos carros nas ruas sempre com a mesma pulsação
de um grande coração cinza
Um tédio cobre as calçadas
Os estranhos, os olhares, os suspiros
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Nós precisamos de alguma coisa que seja significativa
Por favor, me dê alguma coisa que me conforte
O seu abraço vai curar toda essa monotonia
Essa charada monocromática
Os seus olhos vão dizer "eu sei", o seu corpo vai dizer "eu sou"
Vamos embora?
Pra um lugar onde ninguém possa nos achar.